Coube a mim Eduardo Fex e a meu mano Gaber RapSim, a feliz tarefa de analisar como foco inaugural de nosso Blog “El Hip Hop Es Mi Vida” o novo disco do The Game, intitulado 1992. Digamos que outros álbuns que descendem do herdeiro do clã de Compton, merecem e devem ser analisados minuciosamente, e fica aqui a promessa de escrevê-lo em breve.

O disco 1992, nos chama atenção merecendo destaque desde a capa, uma verdadeira obra prima. Já na parte musical, destoando sonoramente da onda Trap que inunda os cd´s de vários artistas no cenário nacional e internacional. Liricamente falando, as respectivas tensões raciais, os conflitos entre as gangues, pobreza que levaram a cidade de Los Angeles e demais distritos no Estado da Califórnia ao colapso no início da década 90, culminando com o espancamento de Rodney King, homem negro que foi brutalmente agredido POR POLICIAIS, sendo posteriormente inocentados por um tribunal, constituído por maioria de pessoas brancas.

Acontecimento esse que gerou uma verdadeira guerra urbana, levando ao encarceramento centenas de pessoas e mortes de outras dezenas.

Inclui ao cardápio de hostilidades, as disputas territoriais pelas gangues Bloods e Crips, componentes étnicos e raciais, já que a Califórnia periférica é formada pelos Chicanos, filhos de imigrantes Mexicanos e imigrantes, na outra ponta Negros estadunidenses e retirantes de países Africanos e América central, adicione a isso os Asiáticos. Foi nesse ambiente conturbado e tenso, que The Game descreve suas experiências e descreve suas letras, bem fieis a essa época e consequentemente a esse ambiente.

A primeira faixa intitulada Savage Lifestyle, nos leva a uma atmosfera dos anos 70, com sampler do Mestre Marvin Gaye e seu clássico Inner City Blues. Composta por Marvin em meados dos anos 70, em meio aos conflitos ocorridos em solo estadunidense, como a luta pelos direitos civis e o fim da Guerra do Vietnã, o rapper de Compton, reproduz nessa canção fielmente os anos 90, transmutando para esse período, os acontecimentos já narrados acima, nos dando um clima nostálgico!

 Também fala que, em décadas é a primeira vez em que a paz está selada entre negros e latinos, retratando também a pobreza da América negra em pleno governo Bush. Entre os eventos impactantes, frisamos o lado de sua abordagem racial, falando que não importa a cor de sua gangue, pois a polícia/sistema o enxerga apenas como mais um preto, onde os grupos excluídos se dividiam entre criminosos e se matavam entre si, complementando com um verso-metáfora do tipo: “Crianças com vendas nos olhos e cegos pela rebeldia, /Ganham vendendo crack o salário de um professor em dia! ” (Nada muito diferente do que ocorre aqui no Brasil.)

LINK: The Game - Savage Lifestyle

Seguindo a ordem cronológica do disco, a faixa “True Colors / It´s on” demonstram a criatividade da produção, onde com uma virada de base, juntam duas faixas em uma, com sampler da clássica Collors de Ice T.

Cravando definitivamente toda sua habilidade em narrar com minucia sua realidade, e, como ter crescido ás voltas com bandido e traficantes lhe influenciaram, algo que, segundo ele próprio, do ponto de vista psicológico isso o afetou e muito, pois relata nas letras todos seus parentes se enveredaram por esse fatídico caminho.

Ele gostaria de contrariar tal estática, e conseguiu até certo ponto de, já que o mesmo se tornou um dos artistas mais polêmicos do Hip Hop (Ele coleciona ao menos 5 detenções.) Ainda na letra, cabe o caso de violência sexual praticado pelo próprio pai contra sua irmã, onde com uma metáfora, ele explica e lembra de todo o sangue pela casa, fazendo também trocadilho com o nome dos Bloods, onde também cita em torno de vários jogadores de basquete no período do Chicago Bulls.

Credita em uma analogia, os maiores jogadores da época como Michael Jordan e Magic Johnson com o Dream Team do crime da rua. Essa faixa consta com a participação do talentoso Osbe Chill com uma levada extremamente gangueira, estilo anos 90.

LINK: The Game-True Colors/Its On [1992 Album Song] (2016)

Em Bompton, visita o sample, “It's Funky Enough” de The D.o.c. membro honorário do N.W.A. Fazendo uma passagem da cena do início do filme dos caras, na cena, no qual Eazy E faz negócio ilícitos (Drogas) com seu primo e é surpreendido pela polícia. Trocadilho perfeito onde Game inverte os papeis e se torna um bem-sucedido traficante de anfetaminas.

LINK: Bompton

Partindo para outra música, The Juice, no qual em nosso humilde ponto de vista merece destaque, pois é descrita através de uma perspectiva bem intimista no qual Game cita, os cinco tiros que o atingiram e sua facilidade em lidar com as mulheres, (Um “suco”,na gíria) como Eve reconheceu seu "Suco" por conta do talento, também recomendando-o para o MEGA PRODUTOR Dr.Dre, sendo o primeiro de Compton a assinar com a Afte rmath. Tendo como algo hereditário por ter nascido no Estado da Califórnia, experimentando as sementes, as mulheres dos seios grandes, lhe dando autenticidade, assim com sua tatuagem do Eazy-E para ter o "Suco".

LINK: The Juice

Em Young Nigga, umas das mais loucas faixas do disco, lembrando muito as bases de Nas, uma de suas inspirações como Rapper vivo. A música se inicia com uma conversa e logo em seguida, somos surpreendidos por uma combinação perfeita de beat e levada, trazendo um clima propicio de História, dando a nós oportunidade de ouvir The Game nos narrar sobre um garoto, (aparentemente seu amigo) descrevendo suas peripécias juntos, e como compartilhavam coisas um com o outro por não terem nada.

Vai seguindo uma linha do tempo sobre a amizade dos dois, até o dia em que os caminhos começariam a tomar rumos diferentes: Seu "parça" acabaria se tornando um Crip, e Game um Blood, algo que posteriormente serviria como pano de fundo para uma briga, perto do fim do ano letivo do último ano da escola, onde já tinham virado inimigos, e segundo Game, " Começamos como irmãos, mas às vezes a merda desmorona, como posso odiar esse negro com todo esse amor no meu coração"

LINK: Yong Nigga

A faixa “The Soundtrack” (Curiosamente nome de uma música com seu rival Meek Mill em seu último álbum The Documentary 2.5). A base e os Backing Vocais nos remetem a lembrança de estarmos ouvido a doce voz de Erika Badu, mas não se deixem enganar, pois se trata de uma nova aposta de Game,chamada Lorine Chia. Essa canção fala de como o The Chronic, do Dr Dre e Snoop Dogg influenciaram a todos os maloqueiros do Oeste na época, e orgulho dele ser amigo de ambos, inclusive dividindo músicas com eles.

LINK: The Sondtrack

I Grew Up On Wu Tang o rapper destaca que mesmo sendo do Leste, a banca Wu Tang já barulhava o país todo, influenciando os negros dos quatro cantos da nação.

LINK: I Grew Up on Wu

Em However you want, Game basicamente faz uma comparação dos Raps antigos, uma ligeira porém sincera homenagem ao 2pac, um dos seus maiores ídolos, no qual ele carrega tatuado em seu braço esquerdo; coroando a letra com uma continuação biográfica, de maneira bem criativa, comparando o marketing do Suge Knight nas ruas das antigas, com a publicidade do tempo atual.

LINK: However You Whant

Baby You (Música esta que já contém vídeo clipe, e está rolando solta nos canais especializados, de internet e tv paga). Com participação do artista multifacetado Jason Derulo, Game abre seu coração e homenageia abertamente a mãe de seus dois primeiros filhos, sua ex Tiffney Cambridge, ele admiti ser culpado pela ruptura e ainda pensa como seria o futuro caso não tivessem terminado sua relação. 

LINK: Baby You

Na pesada e poderosa "What Your Life Like" é narrado de maneira brilhante partes de sua vida, falando das tretas, agradece também tudo da época, desde as referências e aos acontecimentos, comparando sua ascensão, no jogo com a mudança corporal de Drake

LINK: Whant Your Life Like

Já na música, intitulada 92 Bars, faz menção ao número de linhas, e ao nome do Cd, também é um misto de batida gangsta no estilo californiano com um pedal bem Nova Iorquino, com levadas que consagraram The game em seu estilo único, de rimar raivosamente como manda a cartilha Californiana, oriunda de Compton, e, claramente uma diss para Meek Mill!

LINK: 92 Bars

      Então é isso, até e axé, persistam no bem! Boa leitura!